A historia tem mostrado mulheres
fantásticas através dos tempos. Catarina de Medici era uma delas.
Rainha consorte francesa de origem italiana. Sucedeu ao pai, Lourenço II de Médici governante de Florença de 1503 a 1515, Duque de Urbino ‘O Jovem’ em 1516. Casara em Amboise em 2 de maio de 1518 com Madalena de la
Tour-d´Auvergne (1495-1519) Condessa de Auvergne, de Clermont,
Baronesa de La Tour d’Auvergne e de La Chaize;
filha de João III de La Tour, Conde de Auvergne, e Joana de Bourbon; assim Catarina, pela mãe, era parente da
família real francesa. Restaurados os Medici
[1512], Lourenço foi escolhido governante de Florença. Em 1519,
findou com ele a descendência masculina legitima de Cosme, “O Velho”. Os Medicis foram de novo expulsos de Florença, quando a República foi de novo estabelecida em 1527. Deixou esta filha, Catarina,
e um filho bastardo. Este filho bastardo, tido por seu pai com uma amante
moura, Simonetta (irmão portanto de Catarina de Médici) se chamava Alexandre de Médicis e morreria assassinado
em 1537 (muito comum na época: matar desafetos). Duque de Urbino (1519-1532) e primeiro Duque de Florença (1530-1537). casou em Nápoles em 29 de fevereiro
de 1536 com uma filha bastarda de Carlos V, Margarida de
Habsburg ou Austria VII (1522-18.1.1586). Não podemos esquecer que os Medici foram banidos de Florença,
e a República restabelecida, em 1527. Mas em 1530, depois do sítio
célebre, a cidade teve que se render a forças imperiais e Carlos V fez com que Alexandre,
o bastardo de Lourenço, se tornasse
chefe hereditário do governo florentino. Aboliram-se as formas republicanas, e Alexandre governou até ser assassinado
por um parente, Lorenzo di Pierfrancesco
de Médici ou Lourenço de
Pedrofrancisco de Médici, o qual fugiu para Veneza de onde nem tentou se tornar sucessor nem quis restaurar a república. A única tia de Catarina foi Clarissa (1493-1528) casada em 1508 com Filipe II Strozzi (1488-1538) chamado “O Jovem” (dizem que gostava de ‘hábitos não naturais ao homem’), que
entrou em conflito com os Médicis na
revolução de 1527. Aliado ao Duque Alexandre, marchou contra Florença quando este morreu. Retomou a
luta depois da eleição do Duque Cosme I,
em 1537; vencido e preso em Montemurlo, matou-se na prisão (ao que
tudo indica, matou-se para fugir das torturas, pois que na época, a tortura era
institucional). Órfã do pai com meses de idade, tinha treze anos quando Francisco I da França ansioso por contrariar
projetos de Carlos V, conseguiu sua
mão para seu quarto filho, Henrique.
A morte do papa logo aborreceu o rei
francês, e ela ficou mais ou menos relegada em sua corte, primeiro por ter
trazido um pequeno dote (de 100 mil escudos) e poucos apanágios, depois porque
passou dez anos sem ter filhos... Mas Diana de Poitiers, amante de seu marido, a
encarava com olhos gentis e lhe dava mesmo conselhos, e o mesmo fazia seu
sogro, o rei - e sua amante a Duquesa de
Etampes. Vale ressaltar que, alguns estudiosos dizem que as referidas
senhoras eram estudiosas da necromancia, astrologia, arte das ervas, taromancia
e etc, e influenciou muito Catarina,
que tante fascina em função de poder feminino crescente.
Diana de Poitiers |
Casamento - A 28 de Outubro de 1533 casou em Marselha, na presença do papa, com o Delfim Henrique, futuro Henrique, Duque de Orleans, o segundo filho do rei Francisco I da França, num casamento organizado por seu tio-avô, o Papa Clemente VII. Com a morte do seu irmão mais
velho, Henrique tornou-se Delfim da França e mais tarde rei.
Durante os primeiros anos de casamento, Catarina
teve pouca ou nenhuma influência uma vez que Henrique II vivia controlado pela amante Diana de Poitiers
(cortesã profissional, mestra na política, profunda conhecedora das artes
místicas e conhecimento em farmacologia natural). Será Rainha de França quando ascendeu ao
trono seu marido em 31 de março de 1547,
até enviuvar em 1559. Será de novo
rainha em 1574-89, Regente da França em 1552 (na curta campanha de Henrique II na Lorena) e de 1560 a setembro de 1574. Após a morte do
marido, Catarina tornou-se regente
dos filhos, primeiro Francisco II e
depois Carlos IX. Uma das
personagens mais influentes das guerras
de religião francesas, acusam-na de ter sido responsável (ou pelo menos
omissa) pelo Massacre da noite de São
Bartolomeu.
Massacre da Noite de São Bartolomeu |
Regências – Gostava de permanecer na sombra. No
reinado de seu filho Francisco II de França, casado com Maria Stuart, deixou governarem os Guise, tios de Maria. A época era confusa, de guerras
e conspirações entre católicos e protestantes. Catarina teria prometido aos chefes
protestantes, o Príncipe de Condé
e o Almirante de Cligny, liberdade
para seus correligionários. Deve-se a Catarina
a indicação de Michel de l'Hôpital
como chanceler, homem cuja esposa e filhos eram calvinistas, que convocou uma assembléia de notáveis em Fontainebleau (agosto de 1560) em que se decidiu que o castigo dos heréticos deveria ser suspenso e que os
Estados Gerais deveriam se reunir em
Orleans, em dezembro. Francisco II morreu em 5 de dezembro de 1560. Catarina prosseguiu em sua mesma
política, oscilando entre católicos
e protestantes de maneira a estabelecer
o domínio de sua dinastia (na verdade, Catarina era mestra da política,
seguidora inconsciente de Maquiavel).
Manobrava sempre entre a Rainha inglesa
protestante, Elizabeth I, e o rei espanhol, seu
genro, Filipe II. Com isso obteve certa
independência e governo autônomo. Mostrou como regente do filho, Carlos IX, grandes qualidades
políticas. Inteligente, ativa, tinha a necessária duplicidade e bastante
ausência de escrúpulos quanto à escolha dos meios. Como Carlos IX tinha apenas 10 anos ao herdar o trono, Catarina governou praticamente sozinha.
Nomeou Antônio de Bourbon, rei da Navarra e protestante, como Tenente
General do reino, aumentou o poder de l'Hôpital,
evitou o aumento da influência dos Guise
ao objetar ao casamento de sua nora viúva Maria
Stuart com don Carlos, herdeiro espanhol.
Convocou a Conferência de Poissy,
que visava conseguir concordância teológica entre católicos e huguenotes.
Escreveria a Roma: “É
impossivel reduzir pelas armas ou pelas leis os que estão separados pela Igreja
Romana, tão grande é seu número...”. Nisso jamais deu razão a seu genro
Filipe II, que lhe pedia mais dureza
contra os huguenotes, e no “Edito de janeiro de 1562” lhes assegurou
mesmo tolerância. Os interesses políticos que haviam causado o afastamento das
facções religiosas não mudavam: a arrogância dos huguenotes exasperava os católicos,
e o massacre de Vassy em março de 1562 inaugurou a primeira verdadeira guerra religiosa,
na qual saíram vitorosos os Guise,
derrota para a Regente. Catarina teria então chegado a pensar
em se alinhar aos Condé, chefes protestantes, contra os Guise. Escreveu mesmo quatro cartas,
que os huguenotes disseram mais
tarde conter ordes a Condé para
tomar armas e ela declarou que seu conteúdo fora alterado... Os acontecimentos
se precipitaram, e ela sofreu a humilhação de ver Guise trazer Carlos IX
para Paris. A partir de então
flutuou entre as duas forças, negociou e vigiou intrigas de outros, ou da Espanha, que tentava interferir em
benefício do partido católico, ou da
Inglaterra, que se aliaria aos huguenotes, do Imperador, que se
aproveitou da anarquia na França
para reclamar os três bispados
conquistados há pouco por Henrique II.
O assassinato de Guise pelo huguenote Poltrot de Mere (18 de fevereiro de 1563) apressou a
paz. O tratado de Amboise concedeu
em 12 de março de 1563 certas
liberdades aos protestantes. Catarina, para mostrar à Europa que já não mais havia discórdias
entre católicos e protestantes, enviou soldados das duas
religiões à conquista do Havre em 28 de julho de 1563, pois o Almirante de Coligny tinha entregado o
porto aos ingleses. Foram os anos
mais felizes de sua regência. Carlos IX,
maior de idade em 27 de junho,
declarava que a mãe deveria continuar a governar. O tratado de 11 de abril de 1564 assegurou Calais para a França. Catarina e o
jovem rei fizeram um giro pelas províncias francesas (onde, segundo alguns
pesquisadores, estudou e entrou em contato com mestres esotéricos conhecidos na
época, inclusive com a descoberta de Nostradamus, que no futuro descreveria as
tragédias com seus filhos).
Voltou a ocorrer alguma perturbação por causa da
entrevista em Bayonne entre ela e o Duque de Alba em junho de 1565. Os protestantes
espalharam rumor de que ela conspirava com o rei da Espanha, e chegaram a convocar suas forças. Catarina, na verdade, cada vez temia mais Coligny. Temia que Carlos
IX, influenciado por alguns huguenotes,
se alinhasse ao Príncipe de Orange e
declarasse guerra à Espanha. Por
isso teria dado a ordem (apesar da discordância entre estudiosos se deu ou não
a ordem) para o assassinato de Coligny
- para recuperar controle sobre o filho rei. Por isso envolvem seu nome na
lista de responsáveis pelo Massacre de
São Bartolomeu, tão ligado ao assassinato do almirante. Carlos IX morreu em 30 de maio de 1574 e sua influência
decresceu no reinado de seu outro filho, o Duque
de Anjou, que ela fizera rei da Polônia
e que subiu ao trono francês como Henrique III. Catarina gostava bastante desse filho, mas tinha sobre ele pouca
influência (o moleque era ‘brigão’, independente, adepto de mulheres regadas a
muito alcool e pouco chegado à sutilezas). As concessões feitas aos protestantes no Tratado que ficou conhecido como ‘Paz de Monsieur’ em 5 de maio de 1576 provocaram a formação da Santa Liga para defender os interesses
católicos. Durante 12 anos, aumentara na França o poder dos Guise,
em guerra constante contra os huguenotes.
E Catarina era por eles considerada
uma inimiga. Rodeado por seus favoritos, Henrique
III assistiu ao fim da dinastia. Francisco
de Valois, o filho caçula, morreu em 10
de junho de 1584. Não havia herdeiros a não ser um protestante, Henrique de
Bourbon, rei da Navarra (futuro Henrique IV de França). A velha rainha sem mais muito ânimo mas ainda ambiciosa
e o rei sem descendência asssitiam às disputas entre Guises e Bourbons. No
final de 1587 o senhor verdadeiro de
Paris já não era Henrique III, mas sim o Duque de Guise. No Dia das Barricadas, 12 de
maio de 1588, Catarina salvou a
honra do filho, indo em pessoa, de queixo erguido, negociar com Guise, que a recebeu com pose de
conquistador . Mas conseguiu dele que permitisse a Henrique III fugir secretamente de Paris. Houve reconciliação esboçada com Guise por meio do ‘Edito da União’ em julho de 1588. A rainha, intrigante como sempre, arquitetando planos
sem cessar, estava no castelo de Blois com o filho Henrique III para a reunião dos Estados Gerais quando soube em 22 de dezembro de 1588 que o filho
tinha-se livrado de Guise por
assassinato. Sua surpresa foi genuína e trágica e ela teria dito: “Agora,
meu filho, o que você cortou, é preciso recosturar”. Morreu depois de
13 dias deixando o filho em situação crítica. Mal sabia que em 1º de agosto de 1589, a adaga de Jacques Clement cortaria a vida
de Henrique III.
Tumulo de Catarina de Médicis e de Henrique II |
Catarina nos deixou uma fama de
ditatorial, pouco ou nada escrupulosa, calculadora, ardilosa (ou seja, ‘maquiavélica’
no termo mais exato para descreve-la). Só via porém os interesses de sua
família e seus métodos nisso era absolutamente egoístas. Talvez cínicos, como
melhor termo. Apenas porque os interesses da França e os da realeza coincidiam é que se pode dizer que ao
trabalhar por seus filhos, Catarina
trabalhava pelos interesses políticos da França
e por trinta anos evitou interferências externas. Fazia-se rodear de
envenenadores e perfumistas (arte difundida em Itália numa época em que italiano era sinónimo de envenenador) e
foi acusada de assassinar desta forma vários dos seus inimigos, tais como Margarida de Navarra, que havia de ser
sogra da sua filha Margot, e até
mesmo os seus próprios filhos. A seu favor, diga-se que enriqueceu a Bibliotheque Royale, fez Philibert Delorme construir o palácio das Tulherias ou Tuileries,
em Paris, e Pierre Lescot construir o Hotel de Soissons. Foi uma mulher do Renascimento, discípula de Maquiavel ou Machiavelli
e é às vezes descrita como ‘uma mãe coroada’. Tinha um conhecimento esotérico bem desenvolvida, vivendo cercada
por sábios de todos os tipos de filosofias esotéricas e naturais,
Enfim, mais um exemplo de mulher que
fica na história da humanidade. Catarina
de Medici, mestra em politica e em artes místicas. Um dos exemplos vivos do
Renascimento feminino, de onde criou
lendas como Leonora D’Aquitânia, Catrina de Medice , Lucrécia Bórgia e tantas outras.
Loas à elas.
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