Inferno
Termo usado por diferentes religiões, mitologias e filosofias, representando a morada dos mortos, um lugar de grande
sofrimento ou de condenação. A origem do termo é latina: “infernum”, que significa "as
profundezas" ou o "mundo inferior".
Mitologia Grega - Na mitologia grega, as profundezas correspondiam ao reino de Hades, para onde iam os
mortos. Daí ser comum encontrar-se a referência de que Hades era o Deus dos
Infernos. O uso do plural “infernus” indica mais o caráter de submundo e
mundo das profundezas do que o caráter de lugar de condenação, em geral dado
pelo singular, inferno.
→ Distinguindo o Lugar dos Mortos - o Hades - a
mitologia grega também concebeu um
lugar de condenação ou de prisão, o Tártaro. O “Grolier Universal
Encyclopedia” (“Enciclopédia
Universal Grolier”, 1971, Vol. 9, p. 205), sob “Inferno”, diz:
“Os hindus e os budistas consideram o inferno como lugar de purificação
espiritual e de restauração final. A tradição islâmica o considera
como um lugar de castigo eterno”. O conceito de sofrimento após a morte é
encontrado entre os ensinos religiosos pagãos dos povos antigos da Babilônia e do Egito. As crenças dos babilônios e dos assírios retratavam
o “mundo inferior . . . como lugar cheio de horrores, . . . presidido por
deuses e demônios de grande força e ferocidade”. Embora os antigos textos
religiosos egípcios não ensinem que a queima de qualquer vítima individual
prosseguiria eternamente, eles deveras retratam o “Outro Mundo” como tendo
“covas de fogo” para “os condenados”.
“The
Religion of Babylonia and Assyria” (“A Religião de Babilônia e Assíria”),
de Morris Jastrow Jr., 1898, p. 581;
“The
Book of the Dead” (“O Livro dos Mortos”), com
apresentação de E. Wallis Budge,
1960, pp. 135, 144, 149, 151, 153, 161, 200.
Judaísmo - No judaísmo, o termo Gehinom (ou Gehena) designa a situação de purificação
necessária à alma para que possa entrar no Paraíso -
denominado por Gan Eden. Nesse
sentido, o inferno na religião e mitologia judaica não é eterno, mas uma condição finita, após a
qual a alma está purificada. Outro
termo designativo do mundo dos mortos é Sheol, que apresenta
essa característica de desolação, silêncio e purificação. A palavra vem de Ceeol, que mais tarde dá origem
ao termo sheol, não confundindo com "Geena" que era o nome dado a uma ravina profunda ao sul de Jerusalém, onde sacrifícios
humanos eram realizados na época de doutrinas
anteriores. Mais tarde, tornou-se uma espécie de lixão da cidade de Jerusalém, frequentemente em chamas
devido ao material orgânico. O uso do termo Sheol indica lugar
de inconsciência e inexistência, conforme o contexto de “Gênesis” 37:35 nos mostra e não um lugar de punição.
Cristianismo - No Cristianismo existem diversas
concepções a respeito do inferno,
correspondentes às diferentes correntes cristãs. A idéia de que o inferno é um
lugar de condenação eterna, tal como se apresenta hoje para diversas correntes cristãs, nem sempre foi e
ainda não é consenso entre os cristãos.
Nos primeiros séculos do cristianismo,
houve quem defendesse que a permanência da alma
no inferno era temporária, uma vez
que inferno significa "sepultura",
de onde, segundo os Evangelhos, a pessoa pode sair quando da ressurreição. Essa idéia é defendida hoje por várias correntes cristãs.
Catolicismo - Para a corrente católica, conduzida pela Igreja Católica Apostólica Romana, o inferno é
eterno e corresponde a um dos chamados novíssimos: a morte, o juízo final, o inferno e
o paraíso.
Protestantismo - Para muitas das denominações protestantes, o inferno
não é simplesmente um lugar destituído da presença de Deus; é antes um lugar
de tormento e sofrimento. A interpretação
bíblica protestante afirma que, após a morte,
o espírito, uma vez no inferno,
não poderá mais sair, assim como em relação ao paraíso (o céu), não
existindo forma de cruzar a fronteira que separa estes dois locais. Há ainda
outra visão dentro do cristianismo
não-católico, que coloca a morte como um sono, um estado sem consciência (cf. Ec 9:5; Jó 14:21; Jo 11:11-14,
etc), de forma que, conseqüentemente, os ímpios mortos não estão no inferno nem os salvos mortos no céu, mas aguardando a segunda vinda de Cristo, quando então os salvos entrarão
para o céu, que é eterno, e os
impios entrarão no lago de fogo (cf. Ap 20:15), que durará até que eles
sejam consumidos (cf. Ml 4:3).
Segundo esta interpretação, o inferno
é um lugar preparado para a punição de Satanás,
seus anjos e seus seguidores (cf. Mt 25:41), ao contrário da visão comum que coloca Satanás como dominante do inferno.
Islamismo - No Islã, o inferno é eterno, consistindo em sete
portões pelos quais entram as várias categorias de condenados, sejam eles muçulmanos injustos ou não-muçulmanos.
Budismo - De certo modo, todo
o samsara é um lugar de sofrimento para o budismo, visto que
em qualquer reino do samsara existe
sofrimento. Entretanto, em alguns reinos, o sofrimento é maior correspondendo à
noção de inferno como lugar ou situação
de maior sofrimento e menor oportunidade de alcançar a liberação do samsara. Por esse motivo, muitas vezes
expressam-se esses mundos de sofrimento maior como infernos. Nenhum renascimento em um inferno é eterno, embora o tempo da
mente nessas situações possa ser contado em eras. Contam-se dezoito formas de infernos,
sendo oito quentes, oito frios e mais dois infernos que são, na verdade, duas subcategorias de infernos: os da vizinhança dos infernos quentes e o infernos efêmeros. Além
desses dezoito que constituem o "Reino dos Infernos", pelo
sofrimento, o "Reino dos Fantasmas Famintos" é comparável à noção de inferno, sendo constituído de estados
de consciência de forte privação - como fome ou sede - sem que haja
possibilidade de saciar essa privação. No budismo,
o renascimento em um inferno é uma
conseqüência das virtudes e não-virtudes praticadas, de acordo com
a verdade relativa do karma. Entretanto, alguns poucos atos podem, por si, conduzir
a um renascimento nos infernos,
principalmente o ato de matar um Buda e o ato de matar o
próprio pai ou a própria mãe. A meditação
sobre os infernos deve gerar compaixão.
Inferno Como Arquétipo Contemporâneo - A fusão entre paixão, desejo, pecado e condenação envolvida na imagem do Inferno permitiram ao imaginário
contemporâneo imaginar antes lugar de prazer e de servidão ao prazer do que
propriamente de sofrimento ou purificação. O fenômeno é bem observado na cultura cristã que, no seguimento dos
esforços aplicados às idéias de purificação do monoteísmo, condenou as divindades mais materiais da fertilidade, das paixões
e da energia sexual, o que literalmente as transformou em demônios. Assim, os arquétipos da paixão e do prazer ficaram associados ao do inferno, com a conseqüente mudança de sentido e de atração sobre a
imaginação. Outras correntes de pensamento atuais, curiosamente também com base
na cultura católica-cristã,
demonstram a sua opinião de inferno
não como um local físico, mas antes como um estado de espírito, indo ao encontro da ideia preconizada por
diversas correntes filosófico-religiosas
partidárias da reencarnação.
Mudanças No Sentido da Palavra Inferno - A respeito do uso
de “inferno”
para traduzir as palavras originais do hebraico Sheol e do grego Hades (“Bíblia”), “Vine’s Expository
Dictionary of Old and New Testament Words” (“Dicionário
Expositivo de Palavras do Velho e do Novo Testamento”, de Vine, 1981, Vol. 2, p. 187) diz: “Hades (“Bíblia”) . . . corresponde a ‘Sheol’ no Antigo Testamento (A.T.). Na Versão Autorizada do Antigo Testamento e do Novo Testamento, foi
vertido de modo infeliz por ‘Inferno’.” “A Collier’s Encyclopedia” (“Enciclopédia
da Collier”, 1986, Vol. 12, p. 28) diz a respeito de “Inferno”:
“Primeiro representa o hebraico Seol do Antigo Testamento, e o grego Hades (“Bíblia”), da Septuaginta e do Novo Testamento. Visto que Seol, nos tempos do Antigo Testamento, se referia
simplesmente à habitação dos mortos e não sugeria distinções morais, a palavra
‘Inferno’, conforme entendida atualmente, não é uma tradução feliz”.
É, de fato, devido ao modo como a palavra “inferno”(do latin Infernus) é entendida atualmente que
ela constitui uma maneira tão ‘infeliz’ de verter estas palavras bíblicas originais. O “Webster’s Third New International Dictionary” (“Terceiro Novo Dicionário Internacional de
Webster”), exaustivo, diz sob “Inferno”:
“‘de . . . helan,
esconder’. A palavra “inferno” não transmitia assim, originalmente,
nenhuma idéia de calor ou de tormento, mas
simplesmente de um ‘lugar coberto ou
oculto’”.
O significado atribuído à palavra “inferno” atualmente é o representado
na “Divina Comédia” de Dante, e no “Paraíso Perdido” de Milton, significado este completamente alheio à definição
original da palavra. A idéia dum “inferno” de tormento ardente, porém,
remonta a uma época muito anterior a Dante
ou a Milton. “ “The Encyclopedia Americana” (“Enciclopédia Americana”, 1956,
Vol. XIV, p. 81) disse:
“Muita
confusão e muitos mal-entendidos foram causados pelo fato de os
primitivos tradutores da ‘Bíblia’ terem traduzido persistentemente o hebraico Seol e o grego Hades (‘Bíblia’) e Geena pela
palavra inferno. A simples transliteração destas palavras por parte dos tradutores das edições
revistas da ‘Bíblia’ não bastou para eliminar apreciavelmente esta confusão e
equívoco”.
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ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Quanto a este interessantíssimo post, ouso acrescentar que espíritas/espiritualistas não creem em inferno.
Meus melhores cumprimentos.
Mauro Balbino