domingo, junho 05, 2011


Absurdos da Humanidade


 Holocausto - Na fogueira do esquecimento
Teóricos negacionistas propõem uma visão da história às avessas e causam polêmica ao desafiarem a memória e as leis sobre o maior genocídio do século XX.

Nada pode ter sido mais concreto do que a Segunda Guerra Mundial. Epifânia destruidora do século XX, ficou marcada como o maior conflito que o mundo já viu, delineou grande parte da geopolítica atual, criou duas superpotências – EUA e URSS – e abriu alas para a bomba nuclear, dando ao ser humano, pela primeira vez, a perspectiva de extermínio de sua própria espécie. Cerca de 60 milhões de pessoas não puderam viver para contar a história. Seus amigos e familiares têm toda a certeza de que esses homens e mulheres não voltaram para casa no terrível período que vai de 1939 a 1945. Mas a historia não é a mesma para todos. Estudiosos revisionistas querem mudar o “eixo” do conflito, apresentar uma nova versão dos acontecimentos e reescrever um episódio que consideram injusto para os derrotados.

Pergunta:

- Negacionismo – Os nazistas não tinham política de extermínio de judeus. Mesmo que tenha ocorrido, Hitler não sabia das ações.
- Resposta – De fato é muito improvável que o extermínio tenha sido planejado desde a ascensão do partido nazista. No entanto, o próprio fundamento ideológico do partido se baseia no ódio aos judeus. O que ocorreu foi uma escala progressiva, primeiro de segregação, depois de anulação de todos os direitos civis. Durante a guerra, após o confinamento dos povos indesejáveis, que incluíam também poloneses, ciganos, russos e outras minorias étnicas, e da Conferência de Wannsee, em 1942, foi dada a ordem de iniciar a “Solução Final da Questão Judaica”, ou seja, o extermínio em grande escala, industrial. Mas mesmo antes, havia um enorme número de assassinatos cometidos pela polícia ou esquadrões da morte, sem contar com os espancamentos por membros das SA. Hitler por sua vez, recebia relatórios com números de prisioneiros executados e era um dos maiores entusiastas do extermínio, como comprovam seus inúmeros discursos e seu em seu livro "Mein Kampf" (“Minha luta”).

Talvez a característica mais particular da peleja seja a forma maniqueísta sobre como é lembrada com um lado bom e outro ruim, inconteste. Se até Genghis Khan e suas hordas devastadoras são celebrados como ‘conquistadores pelo povo mongol e muitas pessoas ao redor do globo, os nazistas são vistos pelo mundo inteiro, incluindo os alemães desde a sua rendição às forças aliadas, como os únicos responsáveis por uma guerra cuja a destruição e malefícios foram muito além de qualquer possível traço de glória e orgulho além de qualquer possível traço de glória e orgulho trazido pela coragem do combate. E para afunilar mais ainda a figura do mal em um único ponto há aquele homem de punho cerrado e expressão tomada pelo frenesi oratório. Nele se concentram todas as mortes em ambos os campos, de batalha e concentração e é nele que uma nação cheia de remorso expia sua culpa. Segundo o historiador Eric Hobsbawm em seu livro “A era dos extremos”, a causa do maior conflito armado que o mundo já viu pode ser resumida em um só nome: Hitler.
Herman Goering
Mais do que a máxima napoleônica de “conquistar o mundo”, o nazismo levou paralelamente um projeto sistemático de extermínio de um povo (e outras minorias étnicas) a chamada “Solução Final da Questão Judaica”. Com os judeus pereceriam também os ciganos, considerados arianos degradados (e também detentores de conhecimentos ocultos opostos aos do nazismo) e os eslavos, uma raça inferior que deveria ceder seu espaço vital aos germânicos. Como agravante de peso, toda essa loucura ocorreu há menos de duzentos anos após os filósofos iluministas propagarem o ideal da razão e moderação.
 Porém, cada vez mais, há pessoas que clamam por uma versão diferente da história (como se fosse possível). Para eles, Hitler, assim como todo partido nazista, teve pouca ou nenhuma culpa na explosão da II Grande Guerra. Tampouco teriam os nazistas ordenado os extermínios sistemáticos (através de um processo industrial, em série) em campos de concentração. Estes serviriam apenas como lugares de contenção e vigia de possíveis inimigos do estado, como ocorreria nos países do lado aliado, incluindo o Brasil. E acaso haja alguma dúvida, a Alemanha só invadiu a Polônia como estratégia de auto-preservação. Os conspiradores judeu-comunistas não haviam deixado outra opção. Mas afinal, o que essas pessoas têm a dizer e qual mensagem querem passar?
O Sintoma de Uma Era – O questionamento de fatos históricos essenciais e antes aceitos como verdade é um fruto do nosso tempo. Não é à toa que Jean Baudrillard delineou a espinha dorsal da suspeita pós-moderna quando assinalava a armadilha inescapável das construções sociais de verdade em seu “Simulacro e Simulações”. Também não é por acaso que o filme “Matrix” é um marco da cultura popular ao apontar a falta de confiança nos sentidos, em um mundo onde a internet desponta como rede do virtualmente possível. Quantas pessoas se perguntavam (e se perguntam até hoje) se o homem havia pousado na Lua na década de 70? Hoje são comuns os sites que mostram os indícios de uma conspiração norte-americana e as evidências de que a viagem ao satélite natural foi nada mais do que uma farsa. Um novo mercado á ainda aberto quando se fala na vida de Jesus Cristo. Desde Dan Brown (autor do “Código Da Vinci”) surgiram centenas de teorias sobre o “verdadeiroJesus e sobre como a Igreja Católica Apostólica Romana manipulou os evangelhos para esconder os grandes segredos da vida do "nazareno", que, de pobre "galileu" passou a rei merovíngio. E se todas as novidades sobre Sheakspeare forem verdadeiras, o inglês era gay, fumava maconha, não escreveu nenhuma de suas peças, plagiou “MacBeth e não teria existido nunca. Muita coisa, mesmo para um gênio, não?
Forno de Buchenwald
Mas o revisionismo do Holocausto, diferentemente das aristocráticas discussões acadêmicas e da necessidade da cultura pop em lançar sempre uma novidade “reveladora”, toca em feridas muito recentes e inspira paixões próximas da reação violenta, de ambos os lados. Por isso, antes da explicação prosseguir, é preciso dizer que os revisionistas que se debruçaram sobre o assunto são divididos em matizes. Isto é, vão dos mais próximos do ramo principal do pensamento aos mais radicais.

Hoggan foi além e afirmou que a guerra havia começado devido a uma conspiração anglo-polonesa que planejava um ato de agressão conta a Alemanha”.
 Em linhas gerais existem três formas de revisão. Os mais próximos da historiografia tradicional contestam a forma como o holocausto é visto e a chamada “indústria do holocausto”. Para eles, não há duvidas da ocorrência do genocídio, mas criticam a forma como Israel e a comunidade judaica se apropriaram do acontecimento para justificar suas ações. Os intermediários contestam os números envolvendo o holocausto. Por que seis milhões? Não seriam dois, três ou dez? Aí, há uma intricada discussão sobre documentos, censo e formas de contagem das vítimas. Por fim há os que negam efetivamente a existência do genocídio de judeus, ciganos e eslavos de forma sistemática em câmaras de gás. Estes últimos geralmente se utilizam das duas linhas de argumentação anteriores para embasar a sua própria. E ao negarem um fato histórico amplamente aceito são destituídos do titulo de revisionistas pelos historiadores tradicionais e coroados com a alcunha de negacionistas.
Discípulos da Revisão – Ironicamente, foi um sobrevivente de campos de concentração que inicialmente denunciou como farsa os depoimentos de sobreviventes do genocídio. Paul Rassinier, considerado o pai do negacionismo, fazia parte da resistência francesa durante a ocupação alemã e ajudava a criar redes de fugas para os perseguidos pelo regime, incluindo perseguidos políticos e judeus. Foi denunciado e preso por agentes da Sicherheitsdienst, serviço de inteligência das SS, a guarda de elite do partido nazista (e guarda pessoal de Hitler), e acabou sendo deportado para o campo de Buchenwald, onde um número estimado de 56 mil pessoas pereceu sob o jugo dos oficiais da polícia secreta. Só que Buchenwald, apesar de cruel e mortífero, ficava em plena Alemanha e não era um campo de extermínio como Treblinka ou Belzec, mas sim, um lugar de trabalhos forçados. Desse modo Rassinier de fato não viu câmaras de gás sendo utilizadas porque estas não existiam em Buchenwald. Mais tarde, enquanto escrevia seu livro “O drama dos Judeus Europeus”, lançado em 1964, deduziu, devido a contradições no depoimento de sobreviventes que estas jamais existiram e que eram um alarde dos sobreviventes. Além disso, apontava os franceses, essas histórias serviam de justificativas para a existência do recém nascido estado de Israel. Pronto. O francês comunista Rassinier havia posto a pedra fundamental do polêmico pensamento negacionista.
Nos EUA, em meados dos anos 60, o historiador norte-americano David Hogan defendia a visão de seu colega Harry E. Barnes, cujas obras principais criticavam as ações aliadas durante a guerra e questionavam muitos aspectos do Holocausto. Hoggan foi além e afirmou que a guerra havia começado devido a uma conspiração anglo-polonesa que planejava um ato de agressão contra a Alemanha. Mais tarde, em 1969, o americano publicou anonimamente “The mith of six milion”, no qual negava claramente que o holocausto teria existido.
Esses foram, entretanto, os primeiros passos de um pensamento que ganharia maturidade e notoriedade com a próxima geração. Entre 1978 e 1979 Robert Faurisson, historiador francês com pouca visibilidade até então, publicou no jornal “Le Monde” três cartas argumentando que as câmaras de gás jamais haviam sido usadas para judeus ou outras etnias. Os artigos de Faurrison deram o que falar e apontaram os holofotes para os trabalhos de outros negacionistas polêmicos como o inglês David Irving, especialista em história militar que em 1977 havia publicado a história da segunda guerra através da visão do furer alemão em “A guerra de Hitler”, e Ernest Zundel, canadense panfletário que publicou em 1974 o livro escrito por Richard Verral, “Did six million really die?” cuja mensagem é basicamente a de que o holocausto é uma fabricação da propaganda aliada com o intuito de demonizar os nazistas e encobrir suas próprias atrocidades, como o uso da bomba atômica nas cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki. Nos anos de 1980, trabalhos revisionistas começaram a ser publicados e escritos no Brasil por S.E. Castan, dono da editora Revisão e autor de livros negacionistas comoHolocausto: judeu ou alemão?e Acabou o gás”.
 Modus Operandi – Os escritos que nega, a existência do holocausto em geral tentam se aproximar o máximo de um discurso historiográfico tradicional. Após ler os trabalhos de Faurrison, o jornalista e escritor anglo-americano Christopher Hitchens acusou o francês de tentar resgatar o teor pseudo-acadêmico das teorias racistas do Terceiro Reich. “Creio que a qualidade dos discursos negacionistas é muito boa, mas eles se abarcam em documentações que não tem nenhuma prova empírica histórica” diz o historiador Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, autor do livro “Anti-semitismo e Nacionalismo, Negacionismo e Memória”. De fato, para justificar suas convicções, os negacionistas se baseiam em argumentos sobre dúvidas legítimas, pouco esclarecidas por historiadores tradicionais, ou por serem de natureza excessivamente técnica ou por falta de documentos que comprovem diretamente tal ação.
Assim, os negacionistas apontam a falta de um documento direto de Hitler com a ordem sumária “matem os judeus” como prova de que não houve planejamento do Estado para assassinatos em massa. Os historiadores tradicionais aceitam tal existência, porém apontam como provas os depoimentos de inúmeras vitimas os registros de entrada de prisioneiros nos campos de extermínio e nos sistemas de transporte e as declarações dos oficiais nazistas durante o Tribunal de Nuremberg, que julgou os principais figurões responsáveis pelo holocausto e recolheu seus depoimentos, depoimentos que por sua vez são descartados como provas pelos negacionistas, já que estes alegam que as declarações foram obtidas sob tortura pelos aliados. “Eles se baseiam apenas em trechos de documentos que dão base para a própria versão” explica Nóbrega de Jesus.
Talvez o carro-chefe dos argumentos técnicos negacionistas sejam as refutações sobre o uso das câmaras de gás. Desde Rassinier, passando por Faurisson e muitos outros, os que quiseram provar a inexistência do genocídio em massa pelos alemães se debruçaram sobre as técnicas de gaseamento. Segundo Faurisson, apoiado por seu colega químico Jean-Claude Pressac, as câmaras eram inviáveis tecnicamente e, mesmo se fossem possíveis, como armas de extinção em massa, não teriam nunca atingido a capacidade de aniquilar seis milhões de pessoas. Essas teorias são amplamente divulgadas nos sites da internet, onde são citados alguns experimentos científicos comprovando a impossibilidade de uso das câmaras de gás como artefatos de assassinato. Nos sites contra-negacionistas cada argumento é refutado. Como para o leitor comum é impossível verificar cada afirmação técnica ou referência documental, fica o dito pelo não dito e a única saída se baseia na esperança do bom senso.

Segundo Faurisson, as câmaras eram tecnicamente impossíveis como armas de extinção em massa”.
Esse talvez seja o grande perigo dos métodos persuasivos dos negacionistas. Como, por exemplo, um estudante que faz uma pesquisa sobre o holocausto vai saber que, para matar um ser humano, a concentração necessária de Ziklon-B, o gás à base ácido cianídrico usado nas câmaras, é muito menor que a usada para matar piolhos e que por isso cai por terra o argumento de que era impossível gasear os prisioneiros sem contaminar as pessoas que recolhiam os corpos ou provocar uma explosão devido à proximidade com os crematórios? Para se ter a resposta para cada argumento negacionista é necessária muita pesquisa em sites e livros quase nunca disponíveis em português, por exemplo. Logo, se a fonte primária desse estudante for um site de negação com uma retórica sofisticada, como contra-argumentar cada tópico sem o necessário conhecimento de causa? Some-se a isso o fato de que, via de regra, sites negacionistas contêm links diretos para outros com conteúdo abertamente racista ou neonazista.
Sobre essa rede intrincada de posições detalhistas pontuadas em cima de minúcias técnicas e metodológicas apóia-se um discurso apologético das ações nazistas e suas motivações. Começa-se negando a incapacidade tecnológica de se chacinar seis milhões de pessoas em câmaras de gás; na verdade, estima-se que cerca de quatro milhões de pessoas foram mortas nas câmaras enquanto o restante morreu graças a outras causas, como epidemias de tifo e outras doenças, desnutrição e assassinatos nos campos ou em ações planejadas pelos esquadrões da morte, os famosos e temidosEinsatzgruppen” (grupos especiais das SS formados exclusivamente para executar sumariamente determinadas etnias e/ou resistências em territórios ocupados pelos alemães), que incursionavam pelos países recém-conquistados, exterminando comunidades inteiras de judeus, ciganos, intelectuais, professore (a)s ou qualquer tipo de resistência ao jugo nazista.

Sobre a rede intrincada de posições detalhistas pontuadas em cima de minúcias técnicas apóia-se um discurso apologético das ações nazistas”.
 Após excluir-se o genocídio sistemático como possibilidade conta-se a perda dos judeus em “apenas500 mil almas. Então, compara-se essa perda às perdas e sofrimentos do povo alemão sob os bombardeiros dos aliados ou a explosão das populações de origem germânica que habitavam os arredores do Rio Volga pelos soviéticos. Daí, a argumentação salta direto para o anti-semitismo. São apresentadas provas de uma suposta declaração de guerra dos judeus aos alemães, o que teria levado Hitler a declarar guerra como ação preventiva. Conclusão - em poucos passos lógicos temos toda a história do maior conflito da História recontada e nessa versão Hitler é uma figura coerente tentando reerguer uma nação alquebrada pela usura e estabelecer uma era de harmonia (mas não explica ao controle do Estado sobre a população, não permitindo a menor oposição ou resistência à ideologia do Partido Nazista, através da perseguição dos seus órgãos de repressão: a Gestapo e as SS). “Acho que a produção pseudo-científica desses revisionistas proporciona um conjunto de idéias que serve de bateria para a lógica da intolerância”, esclarece Maria Luiza Tucci Carneiro, autora do livro “Holocausto” e professora da Universidade de São Paulo (grande figura e uma “cabeça” enorme, simpática e ótima para um bate-papo) que o preço da sustentação de tais teses é o uso seletivo de informações chave e a vista grossa aos mais numerosos indícios e provas de que a ideologia nazista se baseava num desprezo (histórico) a outrasraçasque não chamados arianos.
Por essas e outras razões os negacionistas vêm sofrendo alguns reveses ao serem refutados por historiadores tradicionais e sofrerem pressões políticas e legais provindas principalmente dos estados europeus onde o neonazismo cresce a cada dia. David Irving perdeu, em 1998, um caso de difamação que havia sustentado contra a historiadora Deborah Lipstadt por ter sido chamado de negacionista no livro “Holocaust denial”. Preso na Áustria por negação do Holocausto cumpriu pena de fevereiro a dezembro de 2006. Ernest Zundel cumpriu sentença de cinco anos na Alemanha por incitação ao racismo. Jean-Claude Pressac no início dos anos 1990 terminou sua parceria com Robert Faurisson após ter acesso às plantas e estudos detalhados de Auschwitz e concluir que as matanças de fato ocorreram. Faurisson foi espancado quatro vezes durante as duas últimas décadas por radicais ensandecidos, mostrando que a ignorância e brutalidade florescem ao menor estímulo nas discussões ideológicas. No Brasil, Castan e a editora Revisão foram condenados pela lei do racismo, mas eles se mantém em liberdade, pois recorreu da sentença.
Novos Tempos – A partir dos anos de 1990, as dúvidas sobre o maior genocídio da história passaram a se globalizar. Se foram uma questão ocidental na década de 60, a cada dia mais a negação está ligada a questões políticas e econômicas. O historiador judeu americano Norman Finkelstein, crítico feroz da comercialização e banalização do genocídio ocorrido sob o jugo nazista, denuncia em seu livro “A indústria do Holocausto” a forma como algumas organizações sionistas norte-americanas e israelenses usam de seu poder de barganha para extrair de países como a Alemanha e a Suíça indenizações excessivas que nem sempre são repassadas para os sobreviventes e seus descendentes (o que não deixa de ser verdade, para nossa vergonha).
Finkelstein, que muitas vezes é agregado entre os negacionistas pelos próprios, acredita que o holocausto começou a ser propagandeado pelos norte-americanos buscando suporte da opinião pública ao Estado judeu quando Israel venceu a Guerra dos Seis Dias em 1967 e despontou como valioso aliados dos ianques no Oriente Médio. “As indenizações, somadas, não representam 5% do atual PIB de Israel. De forma que os benefícios foram relativamente pequenos. Israel sustenta-se – com muito mais certeza – nos subsídios diretos e indiretos, provenientes dos EUA”, explica o historiador Ney Vilela, autor do livro “Irmãos inimigos”, sobre a relação conflituosa entre judeus e palestinos.

De inoperante cidadão do mundo passei a ser um fanático anti-semita. [...] Por isso, acredito agora que ajo de acordo com as prescrições do criador onipotente. Lutando contra o judaísmo, estou realizando a obra de Deus”.

Adolf Hitler, trecho de "Mein Kampf" (Minha Luta”)

Se durante a revisão ficar provado que o holocausto foi uma realidade histórica, qual é a razão de os palestinos terem de pagar o preço dos crimes nazistas?

E os opositores de Israel encontram um prato cheio na negação do holocausto. No dia 11 de dezembro de 2006, o presidente do Iran, Mahmoud Ahmadinejad promoveu a “Conferencia Internacional Para a Revisão da Visão Global do Holocausto”. O objetivo do evento era de “nem negar nem provar a existência do holocausto, mas fornecer a atmosfera cientifica apropriada para que os acadêmicos ofereçam suas opiniões sobre a questão histórica”, segundo o Ministro do Exterior Manouchehr Mottaki. Mottaki, abertamente, já fornecia de bandeja os intuitos um pouco menos escolares do encontro: “Se a versão oficial do holocausto é posta em dúvida então a identidade e natureza de Israel será posta em dúvida. E, se durante essa revisão ficar provado que o holocausto foi uma realidade histórica, então qual é a razão de os palestinos terem de pagar o preço dos crimes nazistas?”. Em outras palavras, a conferência só serviu para deslegitimar o Estado de Israel e angariar simpatias no meio acadêmico e opinião pública em geral. “Mahmoud Ahmadinejad utiliza a comparação apenas para ampliar sua voz no noticiário internacional. Mas ela não é totalmente desabrochada. Os refugiados palestinos (no Líbano, na Jordânia e no Egito) vivem em situação semelhante à de judeus nos guetos da Polônia. Precisam de uma pátria (e de territórios!) para construir uma vida com um mínimo de dignidade”, diz o historiador.
Que Israel tenha tido uma gênese coberta de sangue e que ainda seja um impasse violento excluindo milhares de palestinos de uma vida digna, disso ninguém discorda. Mas são raros os caminhos que levam a uma resolução pacífica e, obviamente, os israelenses se recusam a aceitar a proposta do Iran, Síria e Hammas, a destruição total do Estado judeu, (ou seja, a evacuação de Israel em todos os territórios conquistados por ele) como uma solução viável para o problema. O que exige atenção, no entanto, são como separar o joio do trigo, as críticas legítimas às ações de Israel como Estado do anti-semitismo velado que vem no pacote, junto às acusações. “A crítica anti-semita descola-se da conjuntura histórica e resvala para considerações culturalistas ou étnicas. O interesse do Estado não se relaciona diretamente com uma etnia ou aspectos tradicionais de um povo. Só para comparar, o mesmo povo brasileiro viveu sob a ditadura militar, populismo, autoritarismo varguista, democracia liberal e império escravocrata. Não há como intuir características de nosso povo, a partir da ação do Estado. Os alemães ficaram sob o governo de Hitler e ninguém sério poderia dizer que a selvageria hitlerista é uma característica do povo alemão. Não há por que considerar que a ação do Estado de Israel caracteriza-se o povo judeu ou vice-versa”, conclui o historiador Vilela.

OBS:
1)- Hitler e as ideologias Adolf Hitler acreditava que o comunismo (ou o bolchevismo), segundo o uso mais comum de seus termos, era uma invenção de astúcia judaica com o intuito de inverter a ordem natural da organização social e transformar, através de uma moral artificial, os denominados em dominantes. Tal raciocínio foi claramente inspirado na visão de Friedrich Nietzche sobre o cristianismo, que segundo ele, fora corrompido por São Paulo, um judeu que previa uma força de dominação na religião. A união dos dois demônios nazistasbolchevismo e judaísmo – tem uma razão de ser. Enquanto a crise econômica da República de Weimar, na década de vinte, obrigava proletários e ex-burgueses alemães a revirarem latas de lixo, a recém-nascida União Soviética crescia assustadoramente. Assim, transferir o poder soviético para a identidade judia, pela ponte de Karl Marx, desenharia o contorno de um inimigo ameaçador, digno de ser combatido com todas as forças.

2)- Cultura da Revisão  a partir da década de 60, a literatura negacionista despontou no meio acadêmico. Dos anos de 80 em diante, a corrente foi se tornando mais forte e conhecida por leigos, proliferando-se com o advento da internet. Os sobreviventes e testemunhas do genocídio são cada vez mais escassos e como conseqüência o assunto se torna menos dogmático. Isso seria algo positivo se não viesse lado a lado do fluxo na Europa e EUA. Porque negar a existência de um evento é diferente de repensar seus agentes sob uma ótica mais humana como fez Hannah Arendt. Nos últimos anos, estudiosos como Deborah Lipstadt e Pierre Vital-Naquet vêm publicando livros em resposta à argumentação de negação.

3)-O Judeu Criador do Zyclon-B Fossem as Fúrias, a vingança do destino ante a traição da própria natureza, então Fritz Haber (1868-1934) serviria de emblema máximo a ser estudado. O brilhante químico judeu-alemão é considerado um dos pais da guerra química por ter criado o gás cloro, muito usado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Haber rebatia as críticas à forma cruel da morte por gases venenosos, dizendo que “morte é morte, não importa como”. Em 1915 ele se deparou com a primeira conseqüência trágica de sua carreira, quando sua mulher Clara Immerwahr suicidou-se, transtornada pelas repercussões do trabalho do cientista. A sorte de Haber melhorou quando foi condecorado com o Prêmio Nobel de química, por sintetizar o amoníaco. Durante a década de 20, cientistas do seu instituto desenvolveram o cianeto de hidrogênio, fórmula base para o gás Zyclon-B, que mais tarde seria para o extermínio em massa nas câmaras de gás. O tempo e a quantidade de gás necessária para matar um ser humano também seguiam uma de suas equações. O irônico foi que, mesmo após ter se convertido e renegado a sua herança judia, Fritz Haber é expulso pelos nazistas em 1933, vindo a falecer menos de um ano depois.

4)- Genocídio Armênio Entre 1914 e 1923, o governo do império Turco-otomano promoveu uma série de deportações, internações em campos de concentração junto com políticas de extermínios contra as populações armênias. Estima-se que por volta de 600 mil a 1,5 milhões de pessoas morreram nesse processo, que envolvia fuzilamentos, mortes por envenenamento e por inanição no clima inóspito dos desertos da Anatólia. Só que para o governo turco tal massacre nunca existiu. O que ocorreu foram rebeliões de ordem separatista das populações armênias que levaram a uma rebelião do império. Algo como uma guerra civil, que teria causado a grande mortalidade. O episódio teria inspirado Adolf Hitler na sua decisão de dizimar a população polonesa. Em um documento de autenticidade duvidosa, Hitler teria justificado seus planos cruéis com uma pergunta: “E quem, afinal, se lembra do genocídio Armênio?

5)- Os prisioneiros alemães Campos de concentração não eram uma exclusividade nazista. As estimativas são escusas, mas acredita-se que por volta de quatro milhões de alemães foram mantidos como prisioneiros de guerra. Muitos eram usados como trabalhadores escravos na reconstrução da infra-estrutura dos países aliados. Para piorar a situação, após o fim do conflito, péssimas colheitas forçaram um racionamento geral de alimentos para toda a Europa destruída. Um número alto desses prisioneiros acabou perecendo de inanição ou doenças, excluindo-se os que foram sumariamente executados. Um cativo com sorte seria mandado para um campo inglês que tratava relativamente bem seus internos (há relatos de que os alemães tratavam os prisineiros ingleses com certa cordialidade pelas tropas das Waffen-SS). Na pior hipótese o desafortunado seria encaminhado aos poloneses ou para a União Soviética, onde 35% dos prisioneiros morreram antes de ser repatriados (os russos odiavam os alemães pelos massacres feitos em seu território, de homens, mulheres e crianças. Conseqüentemente, os russos tratavam os alemães da pior maneira o possível. Os oficiais nazistas eram os que mais sofriam, sendo que muitos deles morreram no cativeiro por diversas causas como inanição, doenças, frio, maus tratos ou execuções. Pouquíssimos desses oficiais foram repatriados. Já os SS, independente de sua patente, eram sumariamente executados, de tão odiados que eram).

5)- Os Skinhead – No contra-fluxo de sentimentos comuns no Ocidente pipocam por todo o mundo pequenos grupos nostálgicos de uma época que não viveram em busca de um ideal cada vez mais inconsistente e vago, e por isso mais idealizado e sagrado. Os Neonazistas formam uma aglomeração dos mais variados sistemas de crença que têm como coluna vertical a vontade, muitas vezes a crença, do surgimento de um novo governo nos moldes do Terceiro Reich. Apesar de incontável multiplicidade dos movimentos racistas existe um em especial que vem ao imaginário popular sempre que a palavra neonazista é pronunciada. São os Skinheads, jovens que buscam criar uma identidade comum através da ideologia xenófoba. E talvez esse seja o único ponto em comum da variada gama de skins espalhados pelo mundo (aqui no Brasil sãoconhecidos como "carecas", tendo como polo central a cidade de São Paulo, onde o ódio por nordestinos é particularmente notório). Por mais estranho que pareça, os skins não surgiram na Alemanha, onde seria mais provável, e sim na Inglaterra (vide o álbum e o filme  “The Wall”, do Pink Floyd, que aborda brevemente as ações dos skinheads londrinos e o início do Joy Division, que adorava as imagens da juventude hitlerista, como atesta os vídeos deles na época de seu inicio. No Youtube se encontra vários vídeoclips deles com imagens bem sincronizadas com o som), o arquiinimigo dos germanos na Segunda Guerra Mundial. E suas origens também têm menos relação direta com o nazismo em si e mais com o aumento do desemprego que marginalizou os jovens de classe operária nos anos de 1970, enquanto crescia a participação de estrangeiros no mercado de trabalho (na época, década de 70, turcos e os de origem balcânica). “O totalitarismo surge e encontra um terreno fértil nos momentos de crise, que são os momentos em que os valores estão sendo reformulados” explica Maria Luiza Tucci. Nessa atmosfera de competição, surge um tipo de idéia fantástica usada pelos nazistas, que deste de que o homem é homem é aplicada, de que se eliminarem a presença do outro, visto como agente virulento que infecta a pureza espiritual de um povo, retornariam a um estado idílico de equilíbrio e felicidade (a famosa “Lei do Mais Forte”). Como se a sociedade almejada fosse um corpo homogêneo sem repartições ou conflitos.

Referências

- “Faces do Fanatismo”. Editora Contexto. Autor: vários
Organização: Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky

- Jesus, C.G.N.Anti-Semitismo e Nacionalismo, Negacionismo e Memória: Revisão” Editora e as estratégias da intolerância. Editora UNESP.

- “Holocausto: o outro lado da moeda”. Leituras da História, Ano I, Número 01

Sites

Negacionistas:

Contra-Negação:

Postado ao som do Madredeus, "Sonho"

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