terça-feira, fevereiro 22, 2011


Diáio de Bordo


Diário de Bordo, 22 de fevereiro de 2011. Me sinto deprimido. Deprimido com a solidão interna e com a sensibilidade de uma escuridão suprema querendo emergir do meu âmago. Há dias em que eu estou assim, dark, "tumbático", com tendências anti-sociais. Convivo com a morte diariamente: ela se tornou minha companheira inseparável e sorri pra mim, como se dissesse "fique calmo, você é meu de qualquer maneira. Por mais que você me evite, eu estarei sempre ao seu lado, meu filho. Você virá, querendo ou não, ao meu abraço de descanso eterno. Relaxe! Viva e aprenda a viver para ter uma passagem tranquila, que é inexorável, ao meu reino". Me sinto deprimido porque me sinto só, afastado dos entes que amo profundamente. Me sinto só com meus sentimentos incompreensíveis ao mundo que me cerca. Me sinto só como que numa ambientação alucinógena de um som do Pink Floyd, como no som deles, "Careful with that Axe, Eugene", como um grito interno do desespero da solidão e da sensação do abraço da morte eminente. Tento  levar uma vida "social", mas uso máscaras para disfarçar a minha tristeza e minha sensação de solidão. As vezes me perguntam qual é a do meu blog; e eu sempre respondo que é uma espécie descarga do meu lado obscuro. Gosto do Sol (simbolicamente, a representação física da vida) mas também gosto da Lua (simbolicamente a representação do obscuro, da crueldade, da crueza fria da realidade) da escuridão - e como gosto da noite - que mesmo assim, apesar de tudo, mostra sua beleza aos olhos dos que compartilham da solidão, tristeza e falta de objetivos definidos de vida. Quero viver, mas também quero morrer, cair nos braços da morte, para que possa ser acarinhado por ela, me trazendo a paz que hoje (terça feira) não tenho. Minha natureza real é (e sempre foi) otimista: meu lema foi (e ainda é), "O pessimista faz da oportunidade uma dificuldade; o otimista faz da dificuldade uma oportunidade". Continuo fiel ao meu lema de vida, mas consciente da morte me acompanhando diariamente, não como o restante dos mortais, mas como um filho dela, na qual me olha com carinho, impaciente para me ter em seus braços. Portador de uma doença incurável, progressiva e determinação fatal (porém tratável), tendo viver da melhor forma possível. Como? Sendo gentil com as pessoas que me cercam, sendo honesto com meus sentimentos para mim e para os outros, tentando não levar meu problemas íntimos à outras pessoas, lendo, aprendendo mais e mais. Tento encobrir a minha tristeza e solidão tentando ajudar à outros tristes e solítários, pessoas sem perspectivas de vida, que não conseguem ver a beleza do Sol, juntamente com a beleza da Lua. Queria encher minha cara e ver, chapado, o Pink Floyd, "Live in Pompei", na qual me identifico com a cultura antiga e do submundo da loucura e desespero do ser humano. Talvez eu esteja ficando maluco. Mas nunca me senti tão lúcido como nos dias de hoje. A morte é minha companheira diária: seja no Sol, seja na Lua. Ela me aguarda com ansiedade, apesar da minha resistência a ela, do medo do desconhecido e da beleza do seu reino.Gostaria de dizer várias coisas coisas a pessoa que amo, mas as portas dela jazem fechadas como um túmulo. Os ouvidos estão fechados pelo ressentimento e mal-entendidos. Tento viver com isso: da perda de um amor que não consigo me desfazer. As únicas coisas que me trazem alegria são a música, o sorriso de minha filha mais nova (a mais velha nem aí pra mim, depois de uma discussão com ela, no qual disse coisas que não deveria dizer a uma filha - estava doidão, mas não muito, porém o suficiente para falar merdas; sinto sua falta e a amo muito, mas respeito seu afastamento apesar de me machucar muito seu tratamento diplomático para comigo atualmente, como se eu fosse um estranho), dos delírios dos filmes hollywoolianos e dos filmes experimentais europeus, da velocidade dos clips alucinógenos de todos os estilos de som (bem, nem tanto, pois tem uns que o som é uma merda, mas a fotografia é incrível), com sua tendência consumista, intimista, deglutável e underground (em certos casos). Gosto e sempre gostei do submundo da vida, não do submundo criminal, bem entendido, mas do submundo da produção humana, do diferente, da expressão máxima da cultura obscura, do não convencional, do inconformismo. Tem horas que me vejo velho, mas minha mente não quer aceitar isso. Sou uma espécie de adulto adolescente que tem medo do desconhecido e de crescer, como uma criança perdida numa floresta negra a noite.Convivo com a morte, sempre com seu sorriso acolhedor e compreensível dos meus erros diários. Me sinto só. Tenho vontade de tomar um ácido (mas do bom), fumar um baseado, tomar um garrafão de vinho e ver vídeos de música viajantes para adentrar no meu âmago. Mas não posso. É dificil aceitar isso, mas é minha realidade. Tento evitar o máximo possível a morte, mas ela é minha companheira diária, esperando pacientemente o meu ingresso no seu reino de brumas, para acalentar-me em seus braços, me preparando para novos destinos (isso eu tenho certeza) e novas vidas (reencarnações?). Sei lá... Como dizia o Cazuza (e como me identifico com ele nos dias de hoje), "o meu amor, agora é risco de vida". Me sinto triste. Me sinto triste numa sociedade provincial que não tem um mínimo de sensibilidade à sua história, sua gente e seu destino. Passo pelas pessoas ouvindo o "Inferno", do Tangerine Dream e me sinto só e incompreendido. Mas vou vivendo, não sobrevivendo como antigamente. Descobri com minha doença que existe, na raça humana atual, pessoas realmente desprendidas, com um amor filial que me surpreendeu e me surpreende. Não um amor de piedade, mas um amor descompromissado. E isso me conforta. Mas convivo com a morte (fato) e estou triste no dia de hoje (fato). Sou adepto da Cultura Obscura justamente para entrar em contato com meu lado escuro e ver a beleza da produção dele. Mas me sinto só. Queria estar com a mulher a quem amo, com minhas filhas, vivendo e partilhando com elas meus livros, meus CDs (que a maioria elas detestam), meus vídeos e meu tudo. Hoje é dia de eu ouvir o The Cure, Cocteau Twins, Pink Floyd (o mais alucinógino possível) ou qualquer outro som que me agrade e me identifique com meu estado emocional em que me encontro (por enquanto). Não vejo a morte com temor; não, a vejo como a professora que intermediará minha passagem à um plano superior ou inferior (dependendo da maneira em que agi em vida, acredito eu). Ela é minha companheira, minha irmã, minha amante.. Estou triste e só, mas estou vivendo da melhor maneira possivel.


FLuizM
(Kabalah)

Postado ao som do The Cure, "A forest" (alternative ediction)

Um comentário:

  1. Também tenho o meu blog como válvula de escape, saber aproveitar a tristeza com algo produtivo é uma alegria. E é bom saber que há pessoas que se sentem como me sinto. Parafraseando Bucowski: "Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura". A morte me aflige, assim como o tempo que passa voando... também me refugio em minha mente dispersa e tento manter um contato social obrigatório. Não se aflija, há muitos como você. Sabe aquela música do Pink Floyd, Comfortably Numb. Há dias que me sinto assim, em outros porém tudo parece mais fácil e irrelevante. Acho que a vida está aí para isso, ensinar, aprender e aperfeiçoar-se.Bj e paz no coração!

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